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  • 26 de abr. de 2019
  • 6 min de leitura

Por Rharmanna Fraiz.


No início da década de 1980, principalmente nos Estados Unidos, não haviam muitas bandas que representassem bem o sentimento da juventude da época. O Glam Rock já não era há tempos uma novidade e seu estilo chamativo já não captava mais tanta atenção. O Punk perdia as forças e o Heavy Metal tinha se tornado perfeccionista demais; bandas como Iron Maiden e Kiss chegavam a ensaiar horas a fio antes de um show, perdendo um pouco da espontaneidade que a juventude desejava. Essas bandas não deixaram de ser apreciadas, longe disso! Apenas buscava-se algo novo, diferente de tudo. As heranças da Woodstock e o movimento Hippie não agradavam mais, os jovens não queriam mais "Paz e Amor", eles estavam raivosos e em busca de algo que os ajudasse a expressar isso. Em meio a todos esses fatores sociais, culturais e musicais junto a uma crise econômica norte-americana, surge o Grunge...


A multidão do "Paz e Amor" é embalada no Festival de Woodstock pelas músicas de Creedence Clearwater Revival, Janis Joplin, Jimi Hendrix e outros vários artistas. (Crédito de imagem: We Go Out).

Grunge. De imediato, quando ouvimos essa [linda] palavrinha, associamos quase que automaticamente ao Nirvana ou ainda ao seu icônico vocalista, Kurt Cobain, mas, a história do Grunge vem um pouco antes disso... Primeiro, acho interessante explicar a origem da palavra, afinal de contas, o que significa Grunge? Por mais incrível (e nojento) que pareça, a palavra "grunge" significa "sujeira". Isso mesmo: sujo, imundo, mal-cheiroso. Deriva da palavra "grungy", um jargão utilizado nos Estados Unidos naquela época.


Voltando à história do Grunge, ele é considerado um subgênero do Rock Alternativo e tem suas raízes bem fixadas em Seattle. Há quem diga que o clima de lá influenciou diretamente no estilo, pois mais de 220 dias do ano são nublados e chuvosos, o que ajudou a motivar algumas letras melancólicas e a transmissão de um sentimento de tédio. As inspirações do Grunge são principalmente o Hardcore, o Punk e ainda o Heavy Metal. A mistura de tudo isso teve um resultado inusitado e muito diferenciado. O Grunge deu seus primeiros passos através de duas bandas: Soundgarden e Green River. Possivelmente se você é um fã de Grunge (como nós <3) já ouviu falar de Soundgarden, mas Green River não ficou tão conhecida (acredite você ou não) o que foi fundamental para que o Grunge se consolidasse. A partir de Green River nasceram duas bandas, conhecidíssimas e importantíssimas para o gênero: Mudhoney e Mother Love Bone. Da banda Mother Love Bone nasceu o projeto Temple of the Dog, e eis que surge um dos "protagonistas" do Grunge: nosso querido e gatíssimo Eddie Vedder.


Um dos galãs do Grunge: Eddie Vedder. (Crédito de imagem: Bilesky Discos),

Outro marco importantíssimo na história do Grunge é a gravadora Sub Pop que era praticamente sinônimo do gênero. Fundada em 1986, ficou muito famosa por ser a primeira a aceitar bandas totalmente desconhecidas e torná-las famosas. O influente selo foi responsável por lançamentos iniciais de bandas como Soundgreen, Nirvana, Mudhoney e também por suas adoráveis cartas para quem não conseguia gravar o selo. Segue um trecho:


Crédito de imagem: Sub Pop Records.

"Querido perdedor,

Obrigado por mandar as suas demos para consideração da Sub Pop. No momento, a sua demo é uma entre a imensa quantidade de materiais louváveis que recebemos todos os dias no Quartel General Mundial da Sub Pop e está (devido a restrições de tempo e volume) no seu caminho pelo grande intestino que é o processo de aquisição de talentos.

Apreciamos o seu interesse pela Sub Pop e desejamos tudo de melhor na sua busca.

Saudações."


NOTA: Nós do Rock 'n' History sinceramente acreditamos que quem foi rejeitado pelo menos não saiu se sentindo tão mal quanto poderia, não concordam? HAHAHAHAHA.


Enfim, chegam os anos 1990, e com ele um loirinho, magrinho, de olhos azuis e aparência frágil, vindo de uma minúscula cidade madeireira e ganhando as graças da galera: Kurt Cobain. O sensível vocalista do Nirvana aparentemente conseguia agradar gregos e troianos com o seu som. No documentário Back and Forth de James Moll, produzido em 2011, o ex-integrante do Nirvana (e atual líder do Foo Fighters), Dave Grohl, afirma mais ou menos assim:


"Eu fiquei espantado com o sucesso da banda. Quando ia aos shows comecei a perceber que até os atletas curtiam nosso som, eu fiquei chocado, pois esse era o mesmo tipo de cara que costumava me bater no colégio por curtir esse tipo de música." (Tradução livre).


O sucesso do Nirvana veio com o lançamento do clássico Nevermind, de 1991. Smells Like Teen Spirit (SLTS) tocava incansavelmente nas rádios, a MTV não parava de passar conteúdos da banda e era um sucesso absoluto. A venda de discos deslanchou, tirando o Grunge do Underground [assunto para outro post!], ganhando as prateleiras das maiores lojas de discos do mundo e inclusive rebaixando Michael Jackson, pois SLTS ficou em 1º lugar na Billboard em 1992.


A icônica capa da obra do Nirvana. (Crédito de imagem: Multisom).

Outra coisa interessante de se pensar é que o Grunge não apenas influenciou e mudou o mundo da música, seu estilo "diferentão" conquistou o mundo da moda e até hoje reinam as camisas xadrez de flanela, as calças jeans rasgadas nos joelhos, acompanhadas do nosso inseparável All Star. Também vale destacar que o estilo meio "sujinho" que deu origem ao nome também se aplicava aos músicos que pareciam estar em guerra permanente com o shampoo e em perfeita sintonia com os cabelos compridos, a barba por fazer (que até hoje agradam) eram marcas registradas. No cenário cultural, Kurt teve um grande destaque, defendendo as mulheres, criticando os racistas e homofóbicos, o que pode ser confirmado em sua biografia Heavier than Heaven (2001) pois suas frases clássicas como "God is Gay" e "Homo Sex Rules" eram a todo tempo encontradas pichadas em Aberdeen, onde o astro nasceu. Além dessas, outras duas frases tiveram particular impacto nesse sentido. Em entrevista de 1993, Cobain revela:


"Como eu não conseguia encontrar nenhum bom amigo que fosse homem, eu costumava andar só com meninas, e eu sempre senti que elas não eram tratadas igualmente, não eram tratadas com respeito no jeito em que Aberdeen tratava as mulheres. Elas eram completamente oprimidas, palavras como 'bitch' e 'cunt' eram faladas toda hora."


"Eu sempre fui uma pessoa muito feminina, então eu inclusive achei que fosse gay por um bom tempo porque não achava nenhuma das meninas na minha escola atraente e tal (...) Mas eu sou definitivamente gay em espírito e poderia ser bissexual."


"Se qualquer um de vocês odeia homossexuais, pessoas de cores diferentes ou mulheres, por favor, nos faça esse favor: nos deixe sozinhos, porra! Não venha aos nossos shows e não compre os nossos álbuns."


Depois do grande sucesso do Nirvana outras bandas do mesmo estilo começaram a se destacar. Ten, álbum do Pearl Jam chegou ao 2º lugar na Billboard. Recebe destaque também Dirt, do super original Alice in Chains e ainda Badmotorfinger, do Soundgreen, que estava na lista dos mais vendidos em 1992. O Grunge havia se tornado um monstro do Rock e toda essa fama fez com que a revista Rolling Stone apelidasse Seattle de "nova Liverpool", um trocadilho com a cidade natal dos Beatles.


Simplesmente Nirvana: Os meninos dos olhos do Grunge. (Créditos de imagem: Rock Bizz).

Mas, nem tudo são flores no universo Grunge e muitos ainda falam que esse estilo musical estava fadado ao fim desde o seu início, pois a fuga do mainstream¹ eram quase um dos preceitos do gênero, o que eventualmente aconteceu. Além disso, o grande consumo de drogas e álcool, a depressão que atingia muitos artistas, bem como o amadurecimento musical foram, de certa forma, extinguindo o Grunge. A morte de Kurt em 1994 deixou o mundo chocado e no mesmo ano o Pearl Jam cancelou uma turnê enorme. Dois anos depois o Alice in Chains ficou sem seu vocalista. Tudo isso somado à separação do Soundgreen colocou o Grunge para dormir. Mas será que esse estilo está realmente morto?


Bom, quase todos os dias, se vocês repararem bem, vão encontrar algum adolescente com aquela clássica camiseta do Nirvana pelas ruas ou ainda passará na frente de uma universidade e verá alguém com um botton onde está desenhado o bonequinho do Pearl Jam, que ainda se mantém na ativa. As influências do Grunge estão presentes em muitas bandas e acima de tudo, enquanto ainda estiver rolando um In Utero² em nossos fones de ouvido, o Grunge se manterá vivo.


***

¹ O conceito de mainstream está intimamente ligado com a música e representa algo que é comercializado com certo sucesso. O oposto do mainstream é o underground, que implica pouca visibilidade e reconhecimento, no entanto, uma banda que atua no underground pode se tornar mainstream ao alcançar sucesso.

***


AS FONTES:

CROSS, Charles R. Kurt Cobain: A construção do mito. Rio de Janeiro: Agir, 2014.

CROSS, Charles R. Mais pesado que o céu. São Paulo: Globo, 2002.

 
 
 
  • 19 de abr. de 2019
  • 6 min de leitura

Por Mariana Moreira e Rharmanna Fraiz.



Créditos da imagem: Profundidad de Campo/Luis Rodriguez.

Hoje nós do Rock and History decidimos dedicar esse post para falar sobre a Catedral de Notre Dame de Paris, não somente pelo terrível incêndio que a atingiu no último dia 15 de abril, mas, para falar também de todo o seu valor histórico, artístico, cultural, religioso, arquitetônico e sua característica atemporal. Esse post foi pensado como um tributo, um lembrete da importância do cuidado com o patrimônio histórico, independentemente de onde ele esteja e de quem atinja. Além de falar sobre aspectos informativos desse incrível ponto turístico francês, buscamos fazer uma reflexão sobre a sua importância e também através de quais meios tivemos contato com esse lugar.


A Catedral de Notre-Dame fica localizada no coração de Paris e se encontra em um local denominado Île de la Cité, lugar de fundação da cidade, fundamentalmente histórico e por isso muito importante não só para a capital mas também para toda a França. A Île de la Cité é banhada pelo famoso Rio Sena, um dos mais importantes da Europa. Na mesma ilha encontra-se outra catedral muito importante, a Sainte Chapelle, que também se destaca por sua arquitetura e valor artístico e cultural. Também nessa localidade existe um local chamado Conciergerie, que já foi residência real e em 1392 tornou-se uma prisão.


Os impressionantes vitrais da Sainte Chapelle. Créditos da imagem: Paris Guia.

Notre Dame (que significa Nossa Senhora na língua francesa) tem sua origem no catolicismo e foi construída como uma forma de homenagear a Virgem Maria, reafirmando o poder da religião católica naquele período e reforçando a crença francesa. A construção começou em 1163 e demorou mais de dois séculos para ser concluída. Feita em arquitetura gótica, suas colunas de altura impressionante para a época junto aos arcos (que serviam para sustentar a estrutura e embelezar a edificação) eram capazes de deixar todos que passavam por lá simplesmente de "boca aberta" com tamanha magnitude e exuberância. Além disso, a famoso vitral em formato de rosácea é de uma beleza única.


No fim do século XVII enquanto Luís XIV, o Rei Sol, estava no poder, Notre Dame sofreu várias modificações pois seus vitrais tinham se tornado ultrapassados com o advento do movimento barroco. Durante a Revolução Francesa (1789-1799) a catedral também foi modificada em consequência das inúmeras depredações que ocorreram, como por exemplo a decapitação de vinte e oito estátuas da chamada Galeria dos Reis. Depois disso, a construção passou por uma grande restauração sob a supervisão do arquiteto Eugène Emannuel Viollet-le-Duc, que ficou extremamente famoso na época. Além da importância histórica e religiosa, a catedral preservava inúmeras obras de arte, símbolos e relíquias, incluindo pedaços da coroa de espinhos e da própria cruz de Jesus Cristo. Segundo relatos, ainda possuía um órgão datado do século XVII.


Por ser um dos grandes pontos do cristianismo francês, a catedral foi escolhida para celebrar momentos importantíssimos da história da França, como por exemplo a coroação de Napoleão Bonaparte e a beatificação de Joana D'Arc. Também foi palco de missas e funerais de grandes personalidades como Charles de Gaulle¹, Georges Pompidou² e François Mitterrand³. A catedral sobreviveu à duas guerras mundiais, ocasiões em que a França foi atacada diversas vezes; passou por inúmeras reformas; resistiu à ataques e roubos e se manteve em pé, podendo ser uma representação da força e da resiliência francesas. No ano de 1965, devido a escavações para a construção de um parque subterrâneo naquela localização, foram encontradas catacumbas que apontavam ruínas romanas e habitações medievais, fato que posteriormente se tornou uma marca registrada de Paris, as famosas catacumbas que foram cenário inclusive para filmes de terror.


A catedral em um registro noturno. Créditos da imagem: Embarque na Viagem.

Aqui no Brasil, em geral, nosso primeiro "contato" com Notre Dame se deu através da inesquecível animação O Corcunda de Notre Dame, de 1996. Como não amar Quasímodo com sua simpatia? Sentir apreço pelas gárgulas amigas que se chamavam Victor, Hugo e Laverne? Como não se apaixonar pela sedutora (e gatíssima!) Esmeralda? Como não odiar profundamente o antagonista, Claude Frollo? O filme é incrível e emocionante, aborda assuntos pesadíssimos para um público a princípio infantil, apresentando temas como o infanticídio, o preconceito, a luxúria, o genocídio e o pecado. A animação foi inspirada na obra do icônico autor Victor Hugo (conhecido também por ser o criador da obra Os Miseráveis). Publicado em 1831, curiosamente, o livro não é voltado para o personagem Quasímodo, embora ele e as outras figuras se encontrem na obra. O foco de Hugo é a preservação da catedral devido a sua importância histórica, além de se preocupar em fazer uma profunda análise da sociedade parisiense da época, falando sobre o contraste social medieval, sobre os crimes, as pessoas menos favorecidas, os pedintes, os ciganos, os órfãos, os refugiados da lei, deficientes, ladrões, corrupções e abusos da Igreja Católica. Esse autor foi eternizado por essa e outras obras, mas com certeza a sua forma de escrever foi responsável por ajudar a eternizar a Catedral de Notre Dame na história da literatura, do cinema e em nossos corações.


O personagem de Victor Hugo existe há quase duzentos anos e em 2019 chorou pela destruição da sua amada catedral... Créditos da imagem: Metro Jornal/Cristina.

Ainda no campo das animações, Ratatouille, animação da Disney e da Pixar lançado em 2007 se passa em Paris e em determinados momentos também podemos nos deparar com imagens de Notre Dame.


O personagem Alfredo Linguini passeia por Paris com Colette Tatou. Ao fundo, podemos ver a catedral. Crédito da imagem: Divulgação Disney/Pixar.

Anne Rice, escritora norte-americana consagrada pelo livro Entrevista com o Vampiro (1976) e pelas posteriores Crônicas Vampirescas criou Lestat, personagem icônico do mundo vampírico, de personalidade forte, atitudes controversas e nacionalidade francesa. O personagem esteve em Notre Dame em diversos momentos da obra O Vampiro Lestat (1985). A catedral parisiense se torna abrigo quando Lestat diz "e só me libertei daquele estranho e inaudível vislumbre quando cheguei na Place de Grève e entrei na Catedral de Notre Dame." (página 125) e ainda é palco para a recente imortalidade dele e de sua mãe, Gabrielle: "Então vi as cortinas douradas em volta das janelas e a parte de trás de Notre Dame, tendo ao fundo as estrelas da noite, e a vi ali. Estávamos em Paris. E viveríamos para sempre." (página 140).


Lestat de Lioncourt, o vampiro francês, foi interpretado por Tom Cruise em 1994, na adaptação cinematográfica de Entrevista com o Vampiro. Crédito da imagem: O Livre.

E já que estamos falando de seres sobrenaturais que visitaram Paris e Notre Dame, vale a pena comentar também sobre o filme Van Helsing (2004) que conta a história do famoso caçador de monstros. Nos primeiros minutos do filme o personagem título (interpretado por Hugh Jackman) precisa ir até Paris para deter o monstro, Dr. Hyde que vive na catedral:


Dr. Hyde enfrenta Van Helsing no alto de Notre Dame, com uma visão incrível de Paris! Crédito da imagem: YouTube.

Posteriormente, Van Helsing acabou virando um jogo de vídeo game e através deste também podemos ter uma visão da catedral:


Crédito da imagem: The Sierra Chest.

Falando sobre vídeo games, uma série famosíssima de jogos chamada Assassin's Creed (2007) também é responsável pela criação de incríveis gráficos, inclusive, o jogo Assassin's Creed Unity (2014) poderia ajudar na reconstrução de Notre Dame. No jogo, a catedral é um dos principais lugares da aventura e a construção do projeto se deu através do trabalho árduo da designer Caroline Miousse, que se esforçou intensamente por dois anos para alcançar o objetivo de uma criação fantástica.


Uma imagem vale mais do que mil palavras: A construção impecável de Notre Dame no game da Ubisoft. Poderia ser de grande ajuda para a reconstrução, né?

Certamente ainda ouviremos falar muito sobre a Catedral de Notre Dame nos próximos tempos, mas, além da tristeza por uma perda gigantesca do patrimônio da humanidade, o que devem permanecer firmes como as bases da própria catedral são as histórias que passaram por lá e especialmente todos os aprendizados.


Nos vemos na próxima sexta-feira, com mais um post aqui no Rock'n'History!


Ah! Feliz Páscoa! (:


***

¹Charles de Gaulle foi um general e político francês, liderou as Forças Francesas Livres no período da Segunda Guerra Mundial, além disso, fundou a Quinta República Francesa em 1958 e foi o seu primeiro presidente, entre 1959 e 1969.

²Georges Pompidou foi Primeiro-Ministro da França de abril de 1962 a julho de 1968. Ainda foi Presidente da República a partir de julho de 1969 até a sua morte em 1974.

³François Maurice Adrien Marie Mitterrand foi um político francês, presidente da França entre 1981 e 1995. Detém atualmente o recorde de longevidade na presidência da República francesa. Foi o primeiro Presidente da República e um dos únicos oriundos do Partido Socialista.

***


FONTES:

ANDREW, J. Dudley. As Principais Teorias do Cinema. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002.

BBC News. Incêndio em Notre Dame: O que se sabe sobre a tragédia que consumiu a catedral em Paris. 2019. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47939068&gt;>. Acesso em 17 abr. 2019.

CORREIO DO POVO. Como Victor Hugo ajudou a salvar Notre Dame de Paris. Disponível em: <https://www.correiodopovo.com.br/arteagenda/obra-de-victor-hugo-ajudou-a-salvar-a-notre-dame-de-paris-abandonada-no-s%C3%A9culo-19-1.333220>. Acesso em 17 abr. 2019.

GOMBRICH, E.H. A História da Arte. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1995.

HUGO, Victor. Notre Dame de Paris. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2006.

RICE, Anne. O Vampiro Lestat. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1999.


 
 
 

Por Mariana Moreira e Rharmanna Fraiz.



Hoje o Rock and History traz para vocês uma combinação poderosa de ensinamentos que encontramos através de uma combinação entre história, arte e provérbios. Vamos falar da obra Provérbios Flamengos, de 1559:



Pieter Bruegel, o Velho; Provérbios Flamengos; 1559; 117x163cm; óleo sobre madeira; Museu Staatliche, Berlim. Fonte da imagem: Google Cultural Institute.


Pieter Bruegel, conhecido como "o Velho", foi um pintor da região atualmente conhecida como Países Baixos e viveu no século XVI, mais especificamente entre os anos 1525 e 1569. O título de "o Velho" se popularizou para que ele pudesse ser diferenciado de seu filho mais velho que tinha o mesmo nome do pai, coisa muito comum na época. Não existem muitos documentos que falem sobre a sua carreira, mas, através da tradição popular podemos perceber que Bruegel foi um homem com alguma cultura. É considerado um dos melhores pintores flamengos de seu século e suas obras ficaram marcadas pelas representações de paisagens. Antes dele, as paisagens e figuras do campo eram aspectos secundários das obras, mas Bruegel mudou isso, trazendo protagonismo para cenas corriqueiras, o que foi uma quebra de paradigmas para o período. Outra curiosidade a respeito do artista é que mesmo tendo uma condição financeira elevada para os padrões da época, Bruegel gostava de se "misturar" com o povo, vestindo-se como um camponês com o propósito de entender o cotidiano e a vida no campo, sem que fosse tratado de maneira diferenciada como uma pessoa de classe abastada. Essas incursões ao campo foram importantes para as produções artísticas de Bruegel.



Pieter Bruegel, "o Velho" em uma gravura de Dominicus Lampsonius. Bruegel recebeu o título de "o Velho" para diferenciá-lo de seu filho, que além de ter o mesmo nome seguiu a carreira artística do pai. Fonte da imagem: Web Galery of Art.

Além de Provérbios Flamengos, vale a pena destacar outras duas obras importantes da carreira de Bruegel:



Pieter Bruegel, o Velho; A Luta entre o Carnaval e a Quaresma; 1559; 118x164,5cm; óleo sobre painel; Museu de História da Arte, Viena. Fonte da imagem: WikiArt.

Pieter Bruegel, o Velho; A Torre de Babel; 1563; 114x155cm; óleo sobre painel; Museu de História da Arte, Viena. Fonte da imagem: WikiArt.



O século XVI foi marcado pelas Grandes Navegações, pela criação de rotas comerciais marítimas e também pelo descobrimento do chamado "Novo Mundo", onde inúmeras localidades se tornaram colônias portuguesas e espanholas (inclusive o Brasil). Na Europa, foi um período marcado pela Reforma Protestante, constantes avanços na ciência e mudanças significativas na sociedade. Na realidade desta época, os provérbios eram um meio de expressão muito comum e importante, muitas vezes expostos visualmente, como é o caso dos Provérbios Flamengos. Essa obra de Bruegel teve a intenção de entreter, mas também de instruir. Podemos observar que ele conseguiu fazer isso com muito sucesso, criando uma forma de visualizar o mundo especialmente no sentido moral. É interessante ver a contemporaneidade da obra deste artista, afinal, sobreviveu a inúmeras gerações e é sempre possível ter a sensação de que ela se refere às questões e às realidades do nosso próprio tempo.


Trata-se de uma obra repleta dos mais variados simbolismos, precisaríamos de muitos posts para falar de todas as expressões que podemos encontrar neste quadro (são mais de cem!) por isso, o Rock'n'History fez um levantamento de 10 provérbios que conhecemos atualmente para explicar de forma mais detalhada:



Imagem do Google Cultural Institute com sinalizações do Rock and History.

1. Ser capaz de amarrar até o diabo em um travesseiro: Quando imaginamos alguém amarrando o diabo em um travesseiro soa uma atividade perigosa e especialmente corajosa. Podemos traduzir essa ação como a definição de que a obstinação supera tudo e ainda fazer uma conexão com a expressão "tarefa hercúlea", que significa a realização de um trabalho impossível ou extremamente perigoso. Na mitologia grega, Hércules era filho de Zeus e normalmente conhecido pela realização de 12 trabalhos que o levaram ao extremo, física e geograficamente. Portanto, uma tarefa hercúlea é sinônimo de uma empreitada difícil.




2. Nunca acreditar em quem carrega fogo com uma mão e água com a outra: Carregar fogo e água ao mesmo tempo soa um tanto quanto controverso, não é mesmo? E é justamente esse sentido que temos nessa expressão popular; trata-se de uma pessoa hipócrita ou também o conhecido "duas-caras". Existe outro dito popular usado como "cara de Jano" e significa a mesma coisa. Jano era um deus romano que possuía duas caras: uma na frente da cabeça, que olhava para o futuro e outra atrás, que olhava para o passado. Jano era associado aos começos, aos fins e também às profecias e guerras. Diziam que seu templo só poderia ser fechado quando Roma estivesse em completa paz, o que aconteceu poucas vezes durante a antiguidade. Para quem curte a série Harry Potter, o professor Quirrell é um ótimo exemplo de "cara de Jano" quando estava carregando Lord Voldemort em seu próprio corpo.



3. Fritar todo o arenque por causa das ovas: A interpretação desse provérbio é literalmente muito trabalho para pouca recompensa! O interessante é que essa imagem também corresponde a um outro provérbio que diz "o arenque não frita aqui", que significa que as coisas não estão saindo como o planejado. Bom, se as coisas não estão saindo de acordo com o plano, calcule se o esforço vale a pena, às vezes vale mais a pena traçar outra estratégia ou fritar um novo arenque. Para os curiosos, arenque é um peixe bem gordinho e saboroso, normalmente encontrado no Mar Báltico (Europa).



4. Isso depende de como as cartas vão cair: Quem nunca pensou em deixar a vida levar um pouco? É exatamente isso que esse provérbio significa, deixar que a sorte escolha por você, se eximir um pouco das decisões e culpas. Na medida certa, isso pode ser muito benéfico, mas todos sempre ouvimos que não devemos abusar da sorte. Como as cartas irão cair é um exemplo muito interessante da vida no campo naquele período, pois dependendo principalmente das colheitas e do clima, muitas vezes o destino e o sustento de quem vivia no campo não dependia apenas do trabalho pesado, mas sim da sorte.



5. Se casar sob a vassoura: Por mais curioso que isso seja, se casar sob a vassoura é simplesmente viver juntos sem ser casado. Na época tal comportamento era reprovável e considerado indigno, causando muitos comentários por parte da sociedade e da religião. Em algumas culturas (desde os celtas até os ciganos), logo após o casamento, existia uma tradição chamada "saltar a vassoura". Atualmente essa prática é mais comum no continente africano, pois é uma ação herdada da triste época da escravidão, quando a união entre escravos era proibida e devido a essa questão os casais pulavam uma vassoura juntos para selar a união. Hoje em dia "pular a vassoura" também simboliza vida próspera e recomeço para casais.



6. Ser um apalpador de galinhas: Essa é a famosa expressão que também pode ser traduzida em contar com o ovo antes que a galinha o bote, ou seja, depender e contar com um resultado incerto. Podemos também através dessa imagem lembrar da estória infantil da gansa dos ovos de ouro, onde um casal era dono de uma ave que botava ovos de ouro, no entanto, com a ganância de possuir mais coisas com mais rapidez e contando com a sorte, abriram a barriga da gansa para descobrir que se tratava de um animal completamente comum. Contaram com a sorte, com um resultado incerto e acabaram sem riqueza nenhuma.



7. Jogar rosas aos porcos: Significa desperdiçar esforços com quem não nos valoriza (quem nunca? Hahahaha). O curioso desse provérbio é a sua origem bíblica, pois em Mateus 7:6 fala que não devemos jogar pérolas aos porcos e nem coisas sagradas aos cães. Ou seja, devemos guardar as coisas boas, como nosso tempo, nosso esforço e nosso carinho para quem merece. Há quem diga que devemos guardar também nossos conhecimentos para compartilhar apenas com quem está preparado ou interessado em aprender, caso contrário, trata-se de uma tarefa inútil. O porco era considerado um animal impuro naquele período, neste sentido, podemos concluir que quem dava rosas/riquezas para os "porcos" (seja em sua representação real ou figurada) além de perder seu tempo, perdia também a pureza. Afinal, diga-me com quem tu andas que te direi quem és, não é mesmo? Ou melhor: diga-me com quem compartilha suas pérolas e te direi quem és!



8. Ela coloca o manto azul em seu marido: Este provérbio fica bem no centro do quadro e talvez seja um dos mais importantes aqui analisados. Historicamente, azul é a cor da traição, ou seja, a mulher da imagem, que parece tão carinhosa e solícita está na verdade traindo o seu esposo. Ainda sobre cores, a mulher usa um bonito vestido vermelho e essa cor está relacionada com o pecado e com a luxúria. Além disso, podemos perceber que as condições financeiras do casal não são das piores, pois eles usam bons tecidos e ela ostenta um colar. O fato do homem parecer ser mais velho (pelo uso da bengala e pela sua posição) pode sugerir que ela se casou por interesse e agora o trai. O nome original deste quadro é "O Manto Azul" e talvez esse seja o motivo pelo qual Bruegel colocou esse provérbio em destaque.



9. Se confessar para o diabo: A figura do diabo normalmente é associada a algo ruim, a um inimigo, portanto, ao vermos esse homem se confessando a um ser considerado maligno temos a impressão de que ele está contando segredos para alguém que não devia, afinal, o conhecimento popular nos revela que temos que tomar muito cuidado para quem revelamos nossas coisas, especialmente as fraquezas. Através dessa expressão podemos também estabelecer conexões com uma das fábulas de esopo que conta a relação de um lobo com uma cabra, onde o lobo gentilmente tenta convencer a cabra a se aproximar, mas ela sabe as verdadeiras intenções de seu predador. A moral da história é essa: cuidado quando um inimigo dá conselhos de amigo e especialmente cuidado para escolher quem vai ser esse amigo "confessor".



10. Não importa de quem é a casa que está pegando fogo. Se é possível se aquecer com o fogo, assim eu farei! Esse provérbio reflete um pensamento da época, mas também tem espaço na atualidade. Como foi dito no começo deste post, essa fantástica obra tem como reflexo a sociedade da época em que foi produzida, mas tanto tempo depois, será que mudou muita coisa? A expressão pode ser traduzida como: mesmo na miséria do outro, se eu puder tirar alguma vantagem pessoal, irei fazer isso sem peso na consciência. Se aproveitar de um momento ruim para benefício próprio é reprovável, porém, é muito comum. Todos nós conhecemos alguém ou algum caso onde isso aconteceu.



A arte de Bruegel é tão ricamente detalhada que poderíamos analisá-la por muito tempo, através de inúmeras nuances, mas, como isso infelizmente é impossível, escolhemos esses dez provérbios para que vocês conhecessem o que se passa por trás de alguns detalhes. Se vocês leitores gostam desse tipo de conteúdo e querem que a gente continue falando sobre essa ou outras obras de arte, comentem! Precisamos saber da opinião de vocês... E queremos saber também quais desses provérbios vocês já tinham ouvido falar e usam em seu cotidiano!


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FONTES:


ADDIS, Ferdie. A Caixa de Pandora: Curiosas histórias da mitologia por trás de expressões do nosso dia a dia. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2012.

ASH, Russel; HIGTON Bernard (orgs). Fábulas de Esopo. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1994.

BOVO, Elisabeta (coordenadora). Grande História Universal: O século XVI. Barcelona: Ediciones Folio, 2007.

MARTINS, Simone. Pieter Bruegel, o Velho, 2017. In: História das Artes. Disponível em: <https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/proverbios-flamengos-pieter-bruegel-o-velho/>. Acesso em 11/04/2019.

 
 
 

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