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História, memória e Notre Dame

  • Rock and History
  • 19 de abr. de 2019
  • 6 min de leitura

Por Mariana Moreira e Rharmanna Fraiz.



Créditos da imagem: Profundidad de Campo/Luis Rodriguez.

Hoje nós do Rock and History decidimos dedicar esse post para falar sobre a Catedral de Notre Dame de Paris, não somente pelo terrível incêndio que a atingiu no último dia 15 de abril, mas, para falar também de todo o seu valor histórico, artístico, cultural, religioso, arquitetônico e sua característica atemporal. Esse post foi pensado como um tributo, um lembrete da importância do cuidado com o patrimônio histórico, independentemente de onde ele esteja e de quem atinja. Além de falar sobre aspectos informativos desse incrível ponto turístico francês, buscamos fazer uma reflexão sobre a sua importância e também através de quais meios tivemos contato com esse lugar.


A Catedral de Notre-Dame fica localizada no coração de Paris e se encontra em um local denominado Île de la Cité, lugar de fundação da cidade, fundamentalmente histórico e por isso muito importante não só para a capital mas também para toda a França. A Île de la Cité é banhada pelo famoso Rio Sena, um dos mais importantes da Europa. Na mesma ilha encontra-se outra catedral muito importante, a Sainte Chapelle, que também se destaca por sua arquitetura e valor artístico e cultural. Também nessa localidade existe um local chamado Conciergerie, que já foi residência real e em 1392 tornou-se uma prisão.


Os impressionantes vitrais da Sainte Chapelle. Créditos da imagem: Paris Guia.

Notre Dame (que significa Nossa Senhora na língua francesa) tem sua origem no catolicismo e foi construída como uma forma de homenagear a Virgem Maria, reafirmando o poder da religião católica naquele período e reforçando a crença francesa. A construção começou em 1163 e demorou mais de dois séculos para ser concluída. Feita em arquitetura gótica, suas colunas de altura impressionante para a época junto aos arcos (que serviam para sustentar a estrutura e embelezar a edificação) eram capazes de deixar todos que passavam por lá simplesmente de "boca aberta" com tamanha magnitude e exuberância. Além disso, a famoso vitral em formato de rosácea é de uma beleza única.


No fim do século XVII enquanto Luís XIV, o Rei Sol, estava no poder, Notre Dame sofreu várias modificações pois seus vitrais tinham se tornado ultrapassados com o advento do movimento barroco. Durante a Revolução Francesa (1789-1799) a catedral também foi modificada em consequência das inúmeras depredações que ocorreram, como por exemplo a decapitação de vinte e oito estátuas da chamada Galeria dos Reis. Depois disso, a construção passou por uma grande restauração sob a supervisão do arquiteto Eugène Emannuel Viollet-le-Duc, que ficou extremamente famoso na época. Além da importância histórica e religiosa, a catedral preservava inúmeras obras de arte, símbolos e relíquias, incluindo pedaços da coroa de espinhos e da própria cruz de Jesus Cristo. Segundo relatos, ainda possuía um órgão datado do século XVII.


Por ser um dos grandes pontos do cristianismo francês, a catedral foi escolhida para celebrar momentos importantíssimos da história da França, como por exemplo a coroação de Napoleão Bonaparte e a beatificação de Joana D'Arc. Também foi palco de missas e funerais de grandes personalidades como Charles de Gaulle¹, Georges Pompidou² e François Mitterrand³. A catedral sobreviveu à duas guerras mundiais, ocasiões em que a França foi atacada diversas vezes; passou por inúmeras reformas; resistiu à ataques e roubos e se manteve em pé, podendo ser uma representação da força e da resiliência francesas. No ano de 1965, devido a escavações para a construção de um parque subterrâneo naquela localização, foram encontradas catacumbas que apontavam ruínas romanas e habitações medievais, fato que posteriormente se tornou uma marca registrada de Paris, as famosas catacumbas que foram cenário inclusive para filmes de terror.


A catedral em um registro noturno. Créditos da imagem: Embarque na Viagem.

Aqui no Brasil, em geral, nosso primeiro "contato" com Notre Dame se deu através da inesquecível animação O Corcunda de Notre Dame, de 1996. Como não amar Quasímodo com sua simpatia? Sentir apreço pelas gárgulas amigas que se chamavam Victor, Hugo e Laverne? Como não se apaixonar pela sedutora (e gatíssima!) Esmeralda? Como não odiar profundamente o antagonista, Claude Frollo? O filme é incrível e emocionante, aborda assuntos pesadíssimos para um público a princípio infantil, apresentando temas como o infanticídio, o preconceito, a luxúria, o genocídio e o pecado. A animação foi inspirada na obra do icônico autor Victor Hugo (conhecido também por ser o criador da obra Os Miseráveis). Publicado em 1831, curiosamente, o livro não é voltado para o personagem Quasímodo, embora ele e as outras figuras se encontrem na obra. O foco de Hugo é a preservação da catedral devido a sua importância histórica, além de se preocupar em fazer uma profunda análise da sociedade parisiense da época, falando sobre o contraste social medieval, sobre os crimes, as pessoas menos favorecidas, os pedintes, os ciganos, os órfãos, os refugiados da lei, deficientes, ladrões, corrupções e abusos da Igreja Católica. Esse autor foi eternizado por essa e outras obras, mas com certeza a sua forma de escrever foi responsável por ajudar a eternizar a Catedral de Notre Dame na história da literatura, do cinema e em nossos corações.


O personagem de Victor Hugo existe há quase duzentos anos e em 2019 chorou pela destruição da sua amada catedral... Créditos da imagem: Metro Jornal/Cristina.

Ainda no campo das animações, Ratatouille, animação da Disney e da Pixar lançado em 2007 se passa em Paris e em determinados momentos também podemos nos deparar com imagens de Notre Dame.


O personagem Alfredo Linguini passeia por Paris com Colette Tatou. Ao fundo, podemos ver a catedral. Crédito da imagem: Divulgação Disney/Pixar.

Anne Rice, escritora norte-americana consagrada pelo livro Entrevista com o Vampiro (1976) e pelas posteriores Crônicas Vampirescas criou Lestat, personagem icônico do mundo vampírico, de personalidade forte, atitudes controversas e nacionalidade francesa. O personagem esteve em Notre Dame em diversos momentos da obra O Vampiro Lestat (1985). A catedral parisiense se torna abrigo quando Lestat diz "e só me libertei daquele estranho e inaudível vislumbre quando cheguei na Place de Grève e entrei na Catedral de Notre Dame." (página 125) e ainda é palco para a recente imortalidade dele e de sua mãe, Gabrielle: "Então vi as cortinas douradas em volta das janelas e a parte de trás de Notre Dame, tendo ao fundo as estrelas da noite, e a vi ali. Estávamos em Paris. E viveríamos para sempre." (página 140).


Lestat de Lioncourt, o vampiro francês, foi interpretado por Tom Cruise em 1994, na adaptação cinematográfica de Entrevista com o Vampiro. Crédito da imagem: O Livre.

E já que estamos falando de seres sobrenaturais que visitaram Paris e Notre Dame, vale a pena comentar também sobre o filme Van Helsing (2004) que conta a história do famoso caçador de monstros. Nos primeiros minutos do filme o personagem título (interpretado por Hugh Jackman) precisa ir até Paris para deter o monstro, Dr. Hyde que vive na catedral:


Dr. Hyde enfrenta Van Helsing no alto de Notre Dame, com uma visão incrível de Paris! Crédito da imagem: YouTube.

Posteriormente, Van Helsing acabou virando um jogo de vídeo game e através deste também podemos ter uma visão da catedral:


Crédito da imagem: The Sierra Chest.

Falando sobre vídeo games, uma série famosíssima de jogos chamada Assassin's Creed (2007) também é responsável pela criação de incríveis gráficos, inclusive, o jogo Assassin's Creed Unity (2014) poderia ajudar na reconstrução de Notre Dame. No jogo, a catedral é um dos principais lugares da aventura e a construção do projeto se deu através do trabalho árduo da designer Caroline Miousse, que se esforçou intensamente por dois anos para alcançar o objetivo de uma criação fantástica.


Uma imagem vale mais do que mil palavras: A construção impecável de Notre Dame no game da Ubisoft. Poderia ser de grande ajuda para a reconstrução, né?

Certamente ainda ouviremos falar muito sobre a Catedral de Notre Dame nos próximos tempos, mas, além da tristeza por uma perda gigantesca do patrimônio da humanidade, o que devem permanecer firmes como as bases da própria catedral são as histórias que passaram por lá e especialmente todos os aprendizados.


Nos vemos na próxima sexta-feira, com mais um post aqui no Rock'n'History!


Ah! Feliz Páscoa! (:


***

¹Charles de Gaulle foi um general e político francês, liderou as Forças Francesas Livres no período da Segunda Guerra Mundial, além disso, fundou a Quinta República Francesa em 1958 e foi o seu primeiro presidente, entre 1959 e 1969.

²Georges Pompidou foi Primeiro-Ministro da França de abril de 1962 a julho de 1968. Ainda foi Presidente da República a partir de julho de 1969 até a sua morte em 1974.

³François Maurice Adrien Marie Mitterrand foi um político francês, presidente da França entre 1981 e 1995. Detém atualmente o recorde de longevidade na presidência da República francesa. Foi o primeiro Presidente da República e um dos únicos oriundos do Partido Socialista.

***


FONTES:

ANDREW, J. Dudley. As Principais Teorias do Cinema. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002.

BBC News. Incêndio em Notre Dame: O que se sabe sobre a tragédia que consumiu a catedral em Paris. 2019. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-47939068&gt;>. Acesso em 17 abr. 2019.

CORREIO DO POVO. Como Victor Hugo ajudou a salvar Notre Dame de Paris. Disponível em: <https://www.correiodopovo.com.br/arteagenda/obra-de-victor-hugo-ajudou-a-salvar-a-notre-dame-de-paris-abandonada-no-s%C3%A9culo-19-1.333220>. Acesso em 17 abr. 2019.

GOMBRICH, E.H. A História da Arte. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1995.

HUGO, Victor. Notre Dame de Paris. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2006.

RICE, Anne. O Vampiro Lestat. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1999.


 
 
 

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